sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Um olhar fascinado, como me lembro...

Reportagem - Maio de 2008

XXI FITA – Ambiente de festa e saudade: ambiente de Tuna

Oito da noite: Bolhão, Rua Santa Catarina, Rua Passos Manuel, Coliseu – percurso cheio de negro, apenas interrompido pelas cores das cartolas e bengalas que os finalistas orgulhosamente envergam. Ao chegar ao Coliseu o ambiente é de festa e de saudade, o ambiente é de Tuna. Aos estudantes juntam-se os seus familiares e amigos, e aqueles que simplesmente apreciam este tipo de espectáculo, todos esperando o início de mais um Festival Ibérico de Tunas Académicas, que se realiza desde há 21 anos, na semana da Queima das Fitas do Porto.

O espectáculo abre com a única presença feminina no festival: a Tuna Feminina do Orfeão Universitário do Porto, doces vozes que deliciam os presentes.

Num tema interpretado em grande parte por Marta Dinis a magister da Tuna, as vozes doces transformam-se em vozes quentes, ao som de ritmos latinos que surpreendem os espectadores menos conhecedores do reportório da TFOUP.

Mas a verdade é que o espectáculo vai muito além do palco, o espectáculo estende-se à plateia… “Engenharia…FEUP” é o primeiro cântico a ouvir-se mal termina a actuação, nas vozes fortes e masculinas que enchem a parte superior do Coliseu e ecoam por todo o edifício. E logo surge a resposta “Medicina…S. João”, acompanhada pelo abanar das bengalas amarelas. Numa competição de orgulho na sua “casa”, ouve-se ainda gritar “ISEP”, “ISCAP”, “Economia”.

Tiago Gomes, não é estudante mas está fascinado com o clima “Dá vontade ir para a faculdade, para sentir o que os estudantes sentem, para poder perceber tudo isto. É impressionante o fervor com que gritam pela sua faculdade.”

O pano volta a subir, ouvem-se de novo as vozes fortes, desta vez mais afinadas, numa melodia arrepiante, acompanhada por bandeiras e estandartes esvoaçantes, que deixam todos gélidos de perplexidade. Seguem-se outros temas, mais animados, mais calmos, mas todos com um fulgor condizente com o elevado número de elementos da Tuna de Engenharia da Universidade do Porto.

As bancadas continuam animadas. Ouve-se timidamente (de acordo com o numero reduzido) “ Letras”, cântico protagonizado pelos alunos de Ciências da Comunicação, que enchem duas filas da plateia do lado esquerdo do palco, na sua maioria alunos do primeiro ano, maravilhados com todo o espectáculo (dentro e fora de palco).

Surgem por detrás da cortina, pandeiretas endiabradas, chega a Tuna da Faculdade de Economia, e enche de novo o palco. Enche também todo o Coliseu de um novo ânimo. Entre os alunos do primeiro ano de Ciências da Comunicação vêem-se sorrisos inexplicáveis de alegria, bocas abertas de atenção e perplexidade a cada acrobacia mirabolante dos pandeiretas e porte estandartes. “Sinto orgulho por estar aqui a ver, a viver tudo isto.”, diz João Nápoles, já terminada a actuação.

Depois entra em palco uma das tunas com mais apoio na plateia: a Tuna de Medicina. Entre os finalistas de todas as faculdades, aos quais são dedicadas as actuações de todas as Tunas presentes, a festa faz-se dançando por entre as bancadas numa saudável mistura de cores e casas, acompanhando as músicas com o bater das bengalas no chão e com o seu abanar ao ritmo das melodias mais calmas.

Mais uma actuação começa entretanto. Começam a ouvir-se acordes solitários. Aos poucos as vozes afinadas começam a fazer-lhes companhia, numa junção harmoniosa. O Coliseu pára para ouvir a Tuna da Universidade Católica.

“ Não estava à espera de uma actuação tão boa desta Tuna, está a ser uma surpresa, está a ser muito bom mesmo.”, afirma Marta Afonso enquanto olha atenta tudo o que se passa no palco.

Depois da Universidade Católica é a vez de engenharia voltar a brilhar, desta vez , o Instituto Superior de Engenharia do Porto. A cortina abre, a música começa, abanam-se pandeiretas, esvoaçam as bandeiras. Na plateia acompanham-se as músicas, batem-se palmas, abanam-se as fitas, bate-se com as bengalas nas cartolas, ou simplesmente se observa…

“Não consigo tirar o sorriso dos lábios, estou sem reacção, tudo o que envolve este espectáculo é simplesmente fantástico!”, vai comentando Ana Ribeiro entre um olhar para o palco e outro em volta.

Terminada a actuação da última Tuna a concurso o silêncio invade o recinto. Desta vez não se ouvem os cânticos fervorosos na parte superior do Coliseu. De repente começa a avançar por entre a plateia um grupo de estudante quase em marcha. O grupo começa a aumentar. A parte superior do Coliseu está vazia. “É a FEUP”, começa a murmurar-se, e ainda antes de se soltar um próximo murmúrio o silêncio é quebrado pelo Hino da Faculdade de Engenharia. Os apresentadores já se encontram em palco, mas os “engenheiros” só se retiram uns minutos depois.

Retoma-se o espectáculo com a última actuação da noite. A Tuna Universitária do Porto fecha com chave de ouro esta edição do FITA. “Quero ficar sempre estudante para eternizar a ilusão de um instante” todo o público acompanha a letra, todo o público sente a letra.

Marta Afonso, aluno do 1º ano, confessa que ao ouvir esta música trajada se sentiu verdadeiramente estudante “Já tinha ouvido algumas tunas mas o estranho é estar a assistir trajada... sempre que via tunas adorava mas apercebi-me agora que as via sempre com um certo distanciamento. Aqui no FITA sinto-me parte do espectáculo. As pessoas que estão ali a actuar são estudantes como, agora, eu sou.”.

Duas da manhã: Coliseu, Rua Passos Manuel, Rua Santa Catarina, Bolhão, – percurso cheio de negro. As capas protegem os estudantes da brisa da noite, aconchegam-nos de alegria, aconchegam-nos de saudade.

Sem comentários:

Seguidores